4.1 Desconcentração da pós-graduação

O número total de cursos de mestrado passou de 1.187, em 1996, para 4.601, em 2021, o que corresponde a um crescimento de 287,6% no período. Entre esses dois anos, o número de cursos de mestrado cresceu a taxas mais elevadas do que a média nacional em todas as regiões do Brasil, com exceção da Região Sudeste, que é aquela que manteve o maior número de cursos durante todo o período. No início da série, essa região possuía 739 cursos de mestrado e esse número cresceu para 1.953 no final do período, apresentando assim um crescimento de apenas 164,3%. Em compensação, a Região Norte, que foi a região com o menor número de cursos durante todo o período, passou de apenas 27 cursos de mestrado em 1996 para 297 cursos em 2021, apresentando assim uma taxa de crescimento de 1000,0%, a mais elevada entre as 5 regiões brasileiras. Curiosamente, a ordem relativa das regiões que apresentaram maiores taxas de crescimento do número de cursos de mestrado, no período sob análise, é exatamente o inverso da ordem relativa das Regiões com maiores números de cursos. Isto é, a taxa de crescimento mais elevada foi, como indicado, a da região de menor número de cursos; a região que apresentou a segunda maior taxa de crescimento foi a que apresentava a segundo lugar na ordem das Regiões de menor número de cursos e assim por diante.

O número total de cursos de doutorado passou de 630, em 1996, para 2.532, em 2021, o que correspondeu a um crescimento de 301,9%, taxa ligeiramente superior à do crescimento dos cursos de mestrado. A Região Sudeste, que possuía 499 cursos de doutorado em 1996 e chegou contar com 1.256 em 2021. Essa região também manteve a liderança no número de cursos de doutorado durante todo o período e apresentou a menor taxa de crescimento (151,7%), taxa essa que foi praticamente a metade da taxa de crescimento nacional. Existiam apenas 8 cursos de doutorado na Região Norte no ano de 1996, mas esses chegaram a 108 em 2021, apresentando assim um crescimento de 1.250,0%, mais de quatro vezes superior ao da média nacional. Também no caso dos cursos de doutorado a ordem relativa das Regiões que mais cresceram foi o inverso da ordem em que aparecem as Regiões na lista das que tinham os maiores números de cursos.

O fato de as regiões que apresentaram as maiores taxas de crescimento dos números de cursos de mestrado e de doutorado terem sido aquelas que tinham os menores números desses cursos é uma clara uma evidência do processo de desconcentração regional da pós-graduação brasileira ocorrido entre 1996 e 2021.

Número de cursos por Região, 1996-2021

O processo de desconcentração da pós-graduação brasileira percebido na análise do gráfico anterior é detalhado no gráfico 4.1.2, que apresenta como evoluiu entre 1996 e 2021 a participação de cada uma das 5 regiões no número de programas de mestrado e de doutorado.

Em 1996, a Região Sudeste concentrava 62,3% do número de cursos de mestrado brasileiros. Entre esse ano e o ano de 2021, a participação relativa da Região Sudeste foi reduzida em praticamente 20 pontos percentuais no número de cursos de mestrado. Esses 20 pontos percentuais de participação foram absorvidos pelas demais regiões, tendo cada uma delas aumentado significativamente sua participação relativa. A Região Norte, por exemplo, quase triplicou sua participação no número de cursos de mestrado entre 1996 e 2021, passando de 2,3% para 6,5% nesse período. É interessante observar que a Região Nordeste, que ocupou durante todo o período o terceiro lugar entre as regiões com maior número de cursos de mestrado aproximou-se do segundo lugar ocupado pela Região Sul no final do período. Em 1996, a participação da Região Nordeste nesse quesito estava 1,6 pontos percentuais abaixo da participação da Região Sul, mas essa diferença diminuiu para apenas 0,8 pontos percentuais em 2021.

No caso dos cursos de doutorado, a concentração na Região Sudeste era muito mais elevada. Em 1996, 79,2% dos cursos de doutorado estavam na Região Sudeste. A redução da participação dessa região no número de cursos de doutorado ocorrida entre 1996 e 2021 foi extraordinária. Essa diminuição foi de 29,6 pontos percentuais. A Região Sul absorveu 11,0 pontos percentuais de participação nesse período, absorção essa que foi similar aos 10,5 pontos percentuais assimilados pela Região Nordeste.

Proporção de cursos por Região, 1996 e 2021(%)

O gráfico 4.1.3 apresenta as proporções de títulos de mestrado e de doutorado que foram concedidos por cada uma das 5 regiões brasileiras no ano de 1996 e no de 2021.

Em 1996, 67,4% dos títulos de mestrado concedidos no Brasil foram de responsabilidade de instituições de pós-graduação localizadas na região Sudeste. Em 2021, tal participação passou a ser de 43,5%. A redução de 23,9 pontos percentuais de participação da região Sudeste foi certamente absorvida pelas demais regiões. A região Nordeste ganhou 9,9 pontos percentuais e, com isso, passou sua participação no número de títulos de mestrado de 10,6%, em 1996, para 20,5%, em 2021. Em 2021, a participação da região Nordeste quase alcançou a da região Sul (21,9%). Entre 1996 e 2021, as regiões com menor tradição na pós-graduação obtiveram ganhos extraordinários de participação relativa na concessão de títulos de mestrado. A região Centro-Oeste teve sua participação multiplicada por duas vezes e meia, enquanto a região Norte multiplicou a sua por quatro vezes e meia.

A redução da participação relativa da Região Sudeste na concessão de títulos de doutorado entre 1996 e 2021 foi ainda maior do que aquela ocorrida no caso de títulos de mestrado. A participação da Região Sudeste teve uma redução de 36,4 pontos percentuais de participação nesses títulos. Em 1996, havia uma enorme concentração da concessão de títulos de doutorado na Região Sudeste. Essa região foi responsável por 88,9% dos títulos de doutorado concedidos em 1996 e por 52,5% dos concedidos em 2021. A Região Sul quase triplicou sua participação nos títulos de doutorado, passando de 7,5%, em 1996, para 21,7%, em 2021. A Região Nordeste multiplicou sua participação mais de 11 vezes, passando de 1,4% dos títulos de doutorado concedidos em 1996 para 15,8% dos concedidos em 2021. As Regiões Centro-Oeste e Norte também apresentaram aumentos muito significativos em suas participações na concessão de títulos de doutorado.

Em 1996, 67,4% dos títulos de mestrado e 88,9% dos títulos de doutorado foram concedidos na Região Sudeste. Entre 1996 e 2021, houve uma extraordinária desconcentração da pós-graduação. A participação da Região Sudeste na concessão de títulos de mestrado e de doutorado caíram para respectivamente 43,5% e 52,5% e todas as demais Regiões apresentaram ganhos muito elevados em suas participações.

Distribuição de títulos concedidos por Região, 1996 e 2021(%)

São muito grandes as diferenças entre as participações de cada Região brasileira no total de títulos de mestrado ou de doutorado concedidos a cada ano, como foi possível perceber a partir da análise do gráfico 4.1.3. No entanto, as diferenças são muito menores quando são comparadas as participações de cada Região ponderadas pelas suas respectivas populações.

O gráfico 4.1.4 apresenta uma forma de fazer essa comparação ponderada. Para elaborar esse gráfico foram, primeiro, identificados os números de títulos de mestrado ou de doutorado que foram concedidos em cada região, nos anos 1996 e 2021. Em seguida, foram obtidos os dados sobre os números de habitantes de cada região, medidos em centenas de milhares, naqueles dois anos. A partir disso foi possível saber qual era o número de títulos concedidos em cada região por 100 mil habitantes. Esses valores são apresentados no gráfico como percentagens da média nacional, isto é, como percentagens do número de títulos concedidos no Brasil por 100 mil habitantes. Essa percentagem é o indicador analisado no gráfico.

No ano de 1996, foram concedidos 6,7 títulos de mestrado por 100 mil habitantes no Brasil. No ano de 2021, essa proporção havia passado para 29,3 títulos. A Região Sudeste, por exemplo, foi responsável pela concessão de 43,5% dos títulos de mestrado em 2021, contudo, tal superioridade numérica não é evidente quando o número de títulos é relativizado pelo número de habitantes da região. Nesse ano, foram concedidos 30,5 títulos de mestrado para cada 100 mil habitantes na Região Sudeste, uma proporção que foi muito próxima (apenas 4,2% superior) à proporção Brasileira. Por outro lado, a Região Norte, onde, no ano de 2021, foram concedidos apenas 5,8% dos títulos de mestrado, apresentou uma relação de 19,9 títulos de mestrado por 100 mil habitantes, o que correspondia a 67,9% da média nacional.

No caso dos títulos de doutorado, foram concedidos 1,8 título de doutorado por 100 mil habitantes no Brasil no ano de 1996. No ano de 2021, essa proporção havia passado para 10,2 títulos de doutorado por grupo de 100 mil habitantes. Nesse ano, a Região Sudeste foi responsável pela titulação de mais da metade (52,5%) dos doutores titulados no Brasil, enquanto sua proporção de títulos de doutorado por 100 mil habitantes (12,9) foi 25,6% superior à média brasileira. A Região Norte, que concedeu apenas 3,2% dos títulos de doutorado no ano de 2021, apresentava uma relação de 3,9 títulos por 100 mil habitantes, que correspondia a apenas 38,1% da média nacional. Esse fato é um claro indicador que a desigualdade regional na titulação de doutores por habitante é muito maior do que a que existe no caso dos mestres.

Entre 1996 e 2021, as proporções de títulos de mestrado e de doutorado concedidos por 100 mil habitantes nas cinco regiões brasileiras aproximaram-se da média nacional. Houve também uma inversão nas posições relativas das Regiões Sudeste e Sul na escala das Regiões que mais concediam títulos de mestrado e de doutorado como proporção de suas populações. A Região Sudeste, que ocupou a primeira posição nessa escala em 1996, passou a ocupar a segunda posição em 2021, e a Região Sul, que ocupava a segunda posição em 1996, passou a ocupar a primeira em 2021.

Número de títulos concedidos por 100 mil habitantes como proporção da média nacional, por Região, 1996 e 2021 (%)

O gráfico 4.1.5 apresenta o desempenho de cada unidade da Federação (UF) na titulação de mestres e doutores medido como uma proporção de suas respectivas populações nos anos de 1996 e 2021. Em outras palavras, o gráfico apresenta o número de títulos de mestrado e de doutorado que foram concedidos em cada UF por grupos de 100 mil habitantes, naqueles dois anos, sendo que as UFs aparecem na ordem decrescente desse indicador no ano de 2021.

É muito relevante o fato de cinco UFs – Roraima, Tocantins, Acre, Amapá e Rondônia, que não titularam mestres no ano de 1996, terem passado a titular, em 2021, números de mestres, que eram significativos quando medidas em relação às suas populações. No ano de 2021, Roraima titulou 26,5 mestres por 100 mil habitantes, Tocantins 26,2, Acre 23,9, Amapá 16,1 e Rondônia 13,2. Tais valores correspondiam a proporções do número de títulos de mestres concedidos por 100 mil habitantes que variaram entre 90,4% e 44,9% da média nacional, que foi de 29,3.

Por outro lado, São Paulo, que foi responsável por 38,8% dos títulos de mestrado concedidos no Brasil no ano de 199623, apresentou uma relação 11,9 títulos de mestrado por 100 mil habitantes. Nesse ano, a proporção de títulos de mestrado por habitantes no Estado de São Paulo correspondia a um valor 78,8% superior à média nacional, que foi de 6,7 títulos de mestrado por 100 mil habitantes. No ano de 2021, o cenário já era muito diferente. São Paulo concedeu apenas 20,3% dos títulos de mestrado concedidos no Brasil24, proporção essa que é inferior à sua participação na população nacional e, por isso, o número de títulos de mestrado concedidos nesse Estado por 100 mil habitantes (27,2) foi inferior à média nacional (29,3).

Em 1996, São Paulo aparecia em terceiro lugar entre as UFs com maior número de títulos de mestres por 100 mil habitantes. O Rio de Janeiro aparecia em primeiro lugar, com 15,2 títulos de mestrado por 100 mil habitantes e, em segundo lugar estava o Distrito Federal com 12,8.

Em 2021, o Distrito Federal alcançou a liderança entre as UFs com maior número de títulos de mestrado como proporção de suas populações (59,0 por 100 mil). O Rio Grande do Sul, com 50,2 títulos de mestrado por 100 mil habitantes, passou a ocupar o segundo lugar nessa escala, enquanto o Rio Grande do Norte ocupou o terceiro lugar, com 45,8 por 100 mil habitantes. E São Paulo, que, como dito, ocupava a terceira posição nessa escala em 1996, passou para a décima segunda posição em 2021.

No caso do doutorado, a concentração em São Paulo dos títulos concedidos no Brasil no ano de 1996 era muito mais elevada do que aquela que ocorreu no caso dos títulos de mestrado. 67,1% dos títulos de doutorado concedidos no Brasil naquele ano foram concedidos em São Paulo25. O número de títulos de doutorado concedidos em São Paulo por 100 mil habitantes naquele ano (5,6), foi o mais elevado de todas as UFs e correspondeu a um valor que foi mais de 3 vezes superior ao da média nacional (1,8). Em 2021, o número de títulos de doutorado por 100 mil habitantes titulados em São Paulo foi 13,4, valor apenas 30,7% superior à média nacional (10,2). Nesse ano, São Paulo passou a ocupar a quinta posição relativa na escala das UFs, que mais concederam títulos de doutorado por 100 mil habitantes por 100 mil habitantes.

Doze UFs não titularam doutores em 1996. Em 2021, no entanto, todas as UFs titularam doutores. Uma das UFs, que não concederam títulos de doutorado em 1996, chegou a conceder em 2021 títulos de doutorado por 100 mil habitantes superior à média nacional, que foi de 10,2 por 100 mil. Esse foi o caso do Rio Grande do Norte, que concedeu 14,4 títulos de doutorado por 100 mil habitantes em 2021.

Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, foram, nessa ordem, as UFs que mais concederam títulos de doutorado no ano de 2021. Essas UFs concederam respectivamente 21,0; 20,1 e 16,0 títulos de doutorado por 100 mil habitantes em 2021.

É interessante notar que, no ano de 2021, o desempenho alcançado pelo Distrito Federal e pelo Rio Grande do Sul, com respectivamente 21,0 e 20,1 títulos de doutorado por 100 mil habitantes foram similares ao dos Estados Unidos (21,9), como informa o gráfico 2.3.1. O desempenho de São Paulo nesse ano, 13,4 títulos de doutorado por 100 mil habitante foi comparável aos da Itália (13,7) e do Japão (12,7).

23 Tabela M.TIT.10
24 Tabela M.TIT.10
25 Tabela D.TIT.10
Número de títulos concedidos por 100 mil habitantes, Brasil e unidades da Federação, 1996 e 2021

© 2024 CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos